Padre que 'evangeliza' no futebol "Evito mostrar cartões e dói-me quando puxo o vermelho, mas tem de ser. Certa vez um jogador entrou a pés juntos: era vermelho directo, só que chamei-o, avisei para não repetir o acto e cumpriu. Foi a minha decisão mais difícil", conta o bracarense, de 30 anos, provavelmente o único árbitro-padre em Portugal e dos poucos na Europa. O seu discurso soma, de forma genuína e decidida, a justiça com a moral. E continua: "O relatório do observador daquele jogo denunciou-me, esquecendo o lado humano e pedagógico. Não creio que o futebol se oriente por cartões. A disciplina tem de vir de outro lado”.
Começou de apito na boca em amigáveis na terra natal, Tebosa. O amor pelo futebol, a coragem de superar insultos, a preparação física regular, "a beleza" estética do desporto-rei e as relações adquiridas convenceram-no a tirar, há 12 anos, o curso de árbitro na Associação de Futebol de Braga. Até hoje realizou mais de meio milhar de jogos, desde os regionais à II Divisão B. inclusive fins-de-semana com três partidas, na soma dos escalões jovens e seniores. Nos últimos anos faz trio com dois conterrâneos, que se revezam nos cargos.
Mesmo quando tem o apito na mão é chamado de padre, prior, cónego e reitor, "depende da zona". "Os meus superiores [eclesiásticos] criticam-me por arbitrar, acham que não devo ser insultado. Mas não, eu vou evangelizar, um padre deve sair e dar-se em vez de fechar-se ", sublinha. Indica como o seu principal jogo, um que decidia o acesso à III Divisão. Um espectador apupava-o constantemente. "Virei-me para trás e disse: 'O Senhor o abençoe'. Ele sentou-se e calou-se até final, devia ter dado a bênção mais cedo", ri o sacerdote.

Diário de Notícias
07.12.2007
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